Identidade
José Castelo Branco, há uns tempos num programa televisivo, agora recuperado mercê da sua detenção provisória, disse a seguinte frase: «Eu sou eu.» Raramente um intelectual, um artista, um cientista, um político ou um estudante entrevistado quando lê, revelam uma intuição tão fundamental como a deste conhecido mercador de jóias. De facto, esta frase é uma inflexão criativa na identidade cultural de um povo, diria mesmo, da humanidade. José não se identifica com herói algum, não se esconde atrás do nome José Ninguém, ou só do nome José, ou só do nome Ninguém, ou mesmo dos translúcidos óculos de sol. Não há palavra alguma para o identificar. Não por ser inominável e incausado como Deus quando Este profere «Eu sou Aquele que sou!». Não. José é dizível como qualquer um ou uma. José apenas suspende a palavra na definição de si porque, lúcido, percebeu que a sua identidade é apenas problema dos outros, incluindo as autoridades. «Eu sou eu.»
Não se trata tampouco da possibilidade do angustiante nada, que a imagem do espelho apresenta a qualquer pessoa no seu asseio diário. Trata-se, sim, da identidade dada pelo corpo e sem contaminação da palavra. Ora, a cultura, construída por pessoas feias e com barrigas curvilíneas, rechaçou sempre a construção desta identidade. José apaga definitivamente o oráculo mais célebre de todos os tempos - Conhece-te a ti mesmo - e convida-nos a negar toda a cultura que ensina a virtude da beleza interior e obriga à cegueira ante a sensualidade e a beleza do corpo. «Eu sou eu.»
Não se trata tampouco da possibilidade do angustiante nada, que a imagem do espelho apresenta a qualquer pessoa no seu asseio diário. Trata-se, sim, da identidade dada pelo corpo e sem contaminação da palavra. Ora, a cultura, construída por pessoas feias e com barrigas curvilíneas, rechaçou sempre a construção desta identidade. José apaga definitivamente o oráculo mais célebre de todos os tempos - Conhece-te a ti mesmo - e convida-nos a negar toda a cultura que ensina a virtude da beleza interior e obriga à cegueira ante a sensualidade e a beleza do corpo. «Eu sou eu.»
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