Touching the void vs. Fahrnheit 9/11
Touching the Void, do realizador Kevin Macdonald, é, na minha opinião, o melhor filme documentário de 2004. Muito melhor que Fahrnheit 9/11 de Michael Moore. Onde Moore manipula a imagem para generalizar a condenação de um Bush ridículo, e por conseguinte já condenado, ainda que, posteriormente, sufragado; Macdonald trabalha a imagem para nos mostrar a beleza e o mistério da natureza, tanto a da montanha como a dos seres-humanos. Em Touching the Void não há condenação, porque não há cedência alguma ao maniqueísmo fácil que se vê em Fahrnheit 9/11. O mundo e particularmente os seres humanos são sempre algo mais do que sobre eles se enuncia. Em Moore prevalece a certeza porque tem de haver mudança na decisão política: apear Bush da presidência. Em Macdonald prevelece a dúvida enquanto exemplo de um dilema moral concreto (cortar a corda e salvar uma vida? ou não cortar e deixar morrer duas?) e enquanto dificuldade em julgar a acção empreendida. Em Moore há uma espécie de coisificação de alguém (no caso, Bush) sem lugar a uma resta de dúvida. Em Macdonald há a possibilidade de talvez: talvez a redenção humana humana seja possível, talvez...
Touchingh the Void toca realmente algo de indizível, belo, e obscuro, na natureza humana. O realismo das cenas e a tensão dramática do princípio ao fim - apesar da facilidade com que se antevê o sucedido, recordando outra narrativa brilhante que é Crónica De Uma Morte Anunciada de Gabriel García Márquez - tornam-no em um objecto de maior fruição estética do que Fahrnheit 9/11. Este recebeu a Palma de Ouro. Enfim, um daqueles casos em que a opção política prevaleceu sobre o juízo estético. Ainda bem que assim foi pois que o que merece a pena raramente é premiado no pódio, apenas no tempo.
Touchingh the Void toca realmente algo de indizível, belo, e obscuro, na natureza humana. O realismo das cenas e a tensão dramática do princípio ao fim - apesar da facilidade com que se antevê o sucedido, recordando outra narrativa brilhante que é Crónica De Uma Morte Anunciada de Gabriel García Márquez - tornam-no em um objecto de maior fruição estética do que Fahrnheit 9/11. Este recebeu a Palma de Ouro. Enfim, um daqueles casos em que a opção política prevaleceu sobre o juízo estético. Ainda bem que assim foi pois que o que merece a pena raramente é premiado no pódio, apenas no tempo.
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