!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> nese-nese: Futebol Serviço Público

11.17.2003

Futebol Serviço Público

Prestou ou não, a RTP, serviço público com as várias horas de transmissão de mais um novo e empolgante estádio, o do Dragão? A minha resposta é «sim», e não sou adepto portista.
Vale a pena dar uma resposta clara e refutável a uma pergunta que raramente a tem. A pergunta: «O que é o serviço público de televisão?» A minha resposta: «dar ao público o que não gosta». Paradoxo: o público gosta de futebol e o serviço público seria precisamente não dar, ou dar apenas uma notícia sóbria. No caso do Dragão (estádio e clube) há uma diferença que qualquer serviço público de televisão a deveria fazer notar. Ela foi enunciada metaforicamente por um adepto anónimo ao dizer em directo: «Nós vamos inaugurar o céu das vitórias, enquanto outros inauguraram o inferno...» (crê-se que das derrotas). O FCP tem sido associado à polémica da fusão versus separação entre futebol e política. Nos grupos mais cultos, a separação tem mais simpatizantes. O problema é que há algo mais do que esta polémica, e aflorado pelo simples adepto portista. Ou seja, o FCP é um clube cuja cultura se define pelo orgulho com as vitórias e pela vergonha com as derrotas; já a cultura do SLB parece mais definida pelo orgulho com a eleição ou com a vaia aos governos, e fatalismo na derrota. O FCP deve ser, talvez, a única instituição portuguesa que, sem os seus dirigentes terem agendado para a discussão as implicações do Labirinto Da Saudade de Eduardo Lourenço na vida do clube, perceberam que, ou tinham cultura e prática de vitória, ou não passariam de mais uns quantos típicos tripeiros. Com um clube assim, ninguém saboreia as tripas lembrando o que por elas passou, porque a vitória é o condimento necessário e suficiente. Com as derrotas do SLB até o caviar acaba por saber a submarino radioactivo. Exceptuando a fusão do futebol com a política, sou de opinião que Portugal tem mais a aprender com a cultura do FCP do que com a do SLB. A RTP prestou, deveras, um serviço público, há é pouca gente a dar por isso.