!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> nese-nese: Da entrevista à variação

12.16.2003

Da entrevista à variação

«[...] No meio desses horrores, que realmente fizeram milhões de mortos, encontrava-se ainda um espírito de cavalaria que não se encontra hoje. Nos nossos dias, a morte é feita com os bombardeamentos cirúrgicos. [...] Caímos num caixote do lixo muito triste. No século XX havia uma outra grandeza. A informática e outros meios de informação, como o telemóvel, acabaram por cortar as relações humanas entre as pessoas. O homem da era da comunicação quanto mais comunica mais isolado está» - respondeu o historiador Vitorino Magalhães Godinho, entrevistado pelo Público de 15 de Dezembro de 2003.

Que dizer? O historiador apresenta uma visão amarga e sem a menor confiança sobre o nosso tempo - que é dele também. As citações anteriores são apenas um exemplo. Todos temos direito à expressão livre das nossas opiniões, e todos temos de ter a capacidade de ouvir, sobretudo aquelas que nos provocam discordância. Em todo o caso, sempre podemos rebater perguntando: O que há de válido e romântico no assassínio ou genocídio em nome de um ideal? Cavalgar e brandir a espada com que se derrama o sangue é mais estético que uma bomba cirúrgica? Não me parece que haja objectos privilegiados para se descobrir formas estéticas. Não admiro soldado idealista algum que em nome do amor a ideais odeie e mate pessoas cujo pensar é diferente. Se as pessoas comunicam pelo telemóvel e pela internet, não se isolam, partilham.
Na entrevista, o historiador afirma a sua total surpresa perante as mutações rápidas e complexas da sociedade. Fiquei aliviado! Porque, por uns instantes, pensei que a tragédia à escala planetária estaria determinada pela História. A sua surpresa é a prova da existência de resultados totalmente imprevisíveis e de falhas nas interpretações teóricas. Pode ser minúscula, mas há a possibilidade de afirmar a esperança na humanidade. O poeta, como sempre, dá uma interpretação «era sempre melhor o que passou»... E se a poesia não ... ... sugiro um piano tocado por Paul Bley - não será um monstro sagrado, mas é de ouvir Sankt Gerold Variation 9. Talvez ajude a ver o mundo diferente.