Esplanada (3)
O nariz adunco e a proeminência do lábio inferior dão-lhe um aspecto de quem detecta o esturro da acção e do discurso de qualquer político, excepto, claro, o dos que admira porque, como ele afirma, Nada há a apontar. O apontar com o indicador direito acompanha sempre as suas invectivas sonoras, ditas com voz de locutor de estacão de rádio regional. Em outras ocasiões tem reafirmado a sua militância política e a sua crença de todo o ex-bloco de leste ter sido uma aplicação errada da ideologia que ele professa. Hoje, tive a possibilidade de registar estas palavras trocadas com um (pareceu-me) amigo:
- O mal de Portugal, ouve o que te digo, é continuarmos a ceder perante os interesses obscuros que se opõem claramente ao interesse público. A luta contra o capita...
- Espera, não te esqueças do que vais dizer mas diz aqui (o amigo dava uma vista de olhos ao jornal) que as tuas acções estão bem cotadas...
Ele recolheu o dedo indicador em riste e num tom de voz baixo disse: - Deixa-me ver.
Eu levanto-me e penso na coerência entre pensamento e acção. Não sou capaz de me concentrar. Ainda sinto o aroma e o paladar do café. É excelente!
- O mal de Portugal, ouve o que te digo, é continuarmos a ceder perante os interesses obscuros que se opõem claramente ao interesse público. A luta contra o capita...
- Espera, não te esqueças do que vais dizer mas diz aqui (o amigo dava uma vista de olhos ao jornal) que as tuas acções estão bem cotadas...
Ele recolheu o dedo indicador em riste e num tom de voz baixo disse: - Deixa-me ver.
Eu levanto-me e penso na coerência entre pensamento e acção. Não sou capaz de me concentrar. Ainda sinto o aroma e o paladar do café. É excelente!
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