!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> nese-nese: Uau!

1.16.2005

Uau!

Vale a pena ficar maravilhado com o conhecimento e a técnica que possibilitaram as primeiras imagens de Titã. É um daqueles momentos - e muitos outros há - em que a ciência e a tecnologia se aliam para nos mostrar que há um mundo objectivo para ser compreendido. E será tanto mais compreendido quanto aliarmos as atitudes do tipo "ora deixa cá ver!" com as atitudes do tipo "ora deixa cá pensar" e as soubermos ensinar.
Há uns anos atrás, um ilustre académico, Boaventura Sousa Santos, levantou polémica ao escrever em Um Discurso Sobre As Ciências (1987, Afrontamento) afirmações como:

«Se as leis da natureza fundamentam o seu rigor no rigor das formalizações matemáticas em que se expressam, as investigações de Gödel vêm demonstrar que o rigor da matemática carece ele próprio de fundamento. A partir daqui é possível não só questionar o rigor da matemática como também redefini-lo enquanto forma de rigor que se opõe a outras formas de rigor alternativo [...] (p. 27);
«Todo o conhecimento é auto-conhecimento» (p. 50)

Ora, eu pergunto:
Como se ensina matemática sem a noção do rigor?
Como é possível fundamentar um rigor alternativo, uma vez questionado o rigor matemático?
Será que a missão que nos proporcionou as fotos de Titã, pura e simplesmente, declarou morte à matemática e a quem a apoiar, como quem gritava morte ao imperialismo e como quem clamava - segundo uma inscrição mural célebre - morte aos padeiros? Isto é, será que dispensou a formalização matemática?
Como é possível conquistar a objectividade, se todo o conhecimento é auto-conhecimento?

Há um mundo lá fora que agora começamos a ver e a ouvir (cf., http://www.esa.int/export/esaCP/). Eu fico maravilhado com o conhecimento (ainda é um pedacinho, eu sei) que vamos tendo. Sei que haverá fracassos mas sei que haverá perseverança ante os erros e os problemas. Sei ainda que sem maravilhar-se não se aprende lá muito bem a ciência e a matemática. O pior é questionar sem consequência. Vale que a sonda Cassini-Huygens seguiu o seu caminho e enviou as fotos como previsto, não obstante o cepticismo post-modernista. É do catanxo!