!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> nese-nese: Molenga

8.27.2005

Molenga

Revi Papillon. Tal como na primeira vez, senti inveja dos anos de solitária que Papi sofreu. Mas, desta vez, veio-me à ideia de que só há acontecimento quando é narrado. Como o tempo da narração difere fatalmente do tempo da experiência real, eu não faço a menor ideia do que são anos de solitária. É como nos filmes sobre corsários e piratas: não se tem a menor ideia do quanto tempo leva a preparação de um disparo. De acordo com Jean Merrien em A vida quotidiana dos marinheiros no tempo do Rei-Sol (Livros do Brasil), o exercício do canhão, em 1691, para disparar um único tiro, compreendia as seguintes ordens:

Atenção artilheiros!
SILÊNCIO
Destapar os canhões, Desamarrar os canhões, Pegar na platina, Destapar o ouvido, Pegar na sonda, Introduzi-la na alma, Romper o cartucho, Sonda fora, Passá-la para a mão, Pegar no polvorinho, Abri-lo com os dentes, Espalhar, Fechar o polvorinho, Levar a mão esquerda ao polvorinho, Esmagar a pólvora, Pendurar o polvorinho à cintura, Pegar na platina, Cobrir o ouvido, Pegar nas pinças e nas bimbarras, Artilheiros, apontar: Apontar em frente, Apontar atrás, Enquadrar, Apontar a derrubar mastros, Apontar a afundar, Apontar ao horizonte, Poisar as pinças e as bimbarras na ponte, Pegar no morrão, Pegar na platina, Soprar a mecha, Deitar-lhe fogo, Acender a mecha na ponte, Pôr a platina sobre o canhão, Pegar no escovilhão, Passar o pé esquerdo por cima da talha e do cabo da carreta, Meter o escovilhão no canhão, Pôr o polegar sobre o ouvido, Enfiar o escovilhão até ao fundo do canhão, Comprimir o escovilhão, Mudar o escovilhão, Pegar no cartucho, Morder o cartucho, Metê-lo no canhão, Pegar no valet, Metê-lo no cartucho, Pôr o soquete (calcador de pólvora) no canhão, Meter o cartucho até ao fundo do canhão, Bater três pancadas, Sondar o cartucho, Tirar o soquete, Pegar na bala, Metê-la no canhão, Pegar no valet, Pô-lo sobre a bala, Meter o soquete no canhão, Empurrar a bala por cima da pólvora, Dar uma pancada, Tirar o soquete, Tirar o pé esquerdo de cima da talha e do cabo da carreta, Mudar o escovilhão, Pousá-lo sobre a ponte, Pegar na platina, Cobrir o ouvido, Artilheiro sobre as talhas, Levar o canhão para a escotilha.
(pp. 338-40)


Se outro motivo não serviu este post, quebrei, temporariamente, a molenga estival que sinto neste sábado.