Aprendendo
Neste fim-de-semana comprei e li o livro Couves & Alforrecas - Os segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto, publicado pela editora Objecto Cardíaco. A minha intenção era conhecer o quadro conceptual e o método de análise utilizado pelo autor - ao que julgo saber, um académico de Sociologia da Literatura. Tratou-se de uma leitura penosa e frustrante. Penosa porque as inúmeras citações não estão isoladas do corpo de texto principal, o que dificulta o mecanismo perceptivo da leitura. Frustrante porque o corpo de texto principal dilui-se nas constantes citações e nele não se vislumbra a explicitação dos conceitos e do método utilizados pelo autor.
Cheguei mesmo a realizar algumas medições e posso apresentar os seguintes resultados:
o livro tem 1063 linhas, excluindo as da primeira página, de cariz biográfico;
431 linhas, o que representa 40,5% em relação a 1063, estão preenchidas com citações;
nenhum conceito de criatividade, a não ser uma citação de Fernando Pessoa sobre o assunto;
um "Foda-se" inserto no posfácio, a contrastar com a condenação da linguagem brejeira atribuída à escitora em foco.
Dei a ler o livro a uma pessoa das minhas relações. No fim comentou que mais de metade, afinal, é da autoria da escritora analisada. Sim, de facto, é mais de metade, porque nas 431 linhas, atrás referidas, não foram consideradas as inúmeras palavras e expressões retiradas das obras analisadas.
De um crítico literário - como de um crítico de qualquer arte - espera-se um juízo estético sobre a obra, e não apenas banais juízos de gosto, perfeitamente circulares. Espera-se, ainda, que o saber do crítico ensine e entusiasme a ler autores desconhecidos ou difíceis. Agora, um académico ao preocupar-se em afirmar o que toda a gente sabe (i.e., a qualidade da literatura light é muito fraca) e com a intenção, que perpassa em todo o texto, de arrochar a escritora, expressa a sua ira, não o seu saber. Seria, porém, injusto impedir Couves e Alforrecas de chegar às livrarias, tal como foi tentado. A liberdade de expressão é um valor fundamental numa sociedade democrática. Além disso, privar-se-ia a possibilidade de uma aprendizagem: a Sociologia da Literatura é uma disciplina ácida e sem elegância conceptual. É claro, esta aprendizagem depende de quem lê.
Cheguei mesmo a realizar algumas medições e posso apresentar os seguintes resultados:
o livro tem 1063 linhas, excluindo as da primeira página, de cariz biográfico;
431 linhas, o que representa 40,5% em relação a 1063, estão preenchidas com citações;
nenhum conceito de criatividade, a não ser uma citação de Fernando Pessoa sobre o assunto;
um "Foda-se" inserto no posfácio, a contrastar com a condenação da linguagem brejeira atribuída à escitora em foco.
Dei a ler o livro a uma pessoa das minhas relações. No fim comentou que mais de metade, afinal, é da autoria da escritora analisada. Sim, de facto, é mais de metade, porque nas 431 linhas, atrás referidas, não foram consideradas as inúmeras palavras e expressões retiradas das obras analisadas.
De um crítico literário - como de um crítico de qualquer arte - espera-se um juízo estético sobre a obra, e não apenas banais juízos de gosto, perfeitamente circulares. Espera-se, ainda, que o saber do crítico ensine e entusiasme a ler autores desconhecidos ou difíceis. Agora, um académico ao preocupar-se em afirmar o que toda a gente sabe (i.e., a qualidade da literatura light é muito fraca) e com a intenção, que perpassa em todo o texto, de arrochar a escritora, expressa a sua ira, não o seu saber. Seria, porém, injusto impedir Couves e Alforrecas de chegar às livrarias, tal como foi tentado. A liberdade de expressão é um valor fundamental numa sociedade democrática. Além disso, privar-se-ia a possibilidade de uma aprendizagem: a Sociologia da Literatura é uma disciplina ácida e sem elegância conceptual. É claro, esta aprendizagem depende de quem lê.
3 Comments:
Tudo bom, tudo bem. Agora, com uma editora chamada Objecto Cardíaco e um editor chamado Valter Hugo Mãe, querias o quê.
Abração
E aí. Vamos escrever ou o quê, como diria Zelinda.
opsss e eu q pensava q m.r.p. não tinha segredos de escrita....q tinha simplesmente diarreia mental...
opsss afinal hoje já aprendi mais uma coisa linda.....:))))))))))
a sociologia da literatura está com obstipação:)
jocas maradas
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