!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> nese-nese: A mosca

9.15.2004

A mosca

Há uns anos, dirigia-me a uma assembleia e uma mosca entrou direitinha pela minha boca. Acabei por, involuntariamente, a engolir. Não sei se os ácidos do meu estômago a destruíram. Às vezes sinto uma certa estranheza. Tenho ganas de me lançar para a bocarra de um tubarão ou de um crocodilo para sentir o gozo de ser devorado. Quem sabe se este louco tropismo não ficou larvar em mim depois daquela ingestão? Quem sabe se um dia não se libertarão do meu corpo larvas viscosas e gordinhas? E quem pode garantir que uma metamorfose jamais se dará? Uma metamorfose que tanto pode tornar-me num insecto indefeso e estaladiço como num escaravelho assustador e monstruoso.
Caro que não! Primeiro, estes receios kafkianos não estão na moda. Segundo, a razão, a ciência, a justiça, a política e claro, as instituições bancárias e de seguros, possibilitam-nos uma vida livre de preocupações irracionais. Sobretudo aqui na Europa. Portanto, engolir uma mosca em público é um simples embaraço social e motivo de um chiste mais ou menos divertido. Nada mais do que isso.
Caramba! Ás vezes sinto que uma mosca percorre o meu corpo. Olho e nada vejo. Será que se passeia debaixo da minha pele? Por favor, alguém que me diga que já engoliu uma mosca...