!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> nese-nese: Não foi só

2.08.2005

Não foi só

Não foi só a falta de tempo que me demorou a afixar um post. Foi também o tema do anterior. Auschwitz deixa-nos sempre sem palavras e, no meu caso, não podia saltar para o quotidiano sem mais. Seria como acabar um momento intenso sem um gesto de finalização simbólica. As palavras de Primo Levi - Se Isto É Um Homem - ajudam a tal finalização, sem que haja corte abrupto e dissolução da memória:

«Com a absurda precisão à qual mais tarde deveríamos habituar-nos, os alemães fizeram a chamada. No fim - Wieviel Stück?- perguntou o sargento; o cabo fez a saudação militar, e respondeu que as «peças» eram seiscentas e cinquenta, e que tudo estava em ordem; então carregaram-nos nas camionetas e levaram-nos para a estação de Carpi. Aqui esperavam-nos o comboio e a escolta para a viagem. Aqui recebemos as primeiras pancadas: e o facto foi tão novo e insensato que não sentimos dor, nem no corpo nem na alma. Só um profundo espanto: como se pode bater num homem sem raiva?»

«Não se deve sonhar: o momento de consciência que acompanha o acordar é o sofrimento mais intenso. Mas não nos acontece muitas vezes, e os sonhos não duram muito tempo: mais não somos do que animais cansados.»

«Uma parte da nossa existência reside nas almas de quem entra em contacto connosco: eis porque é não-humana a experiência de quem viveu dias em que o homem foi uma coisa aos olhos do homem.»

«Arthur regressou felizmente à sua família, e Charles retomou a sua profissão de professor primário; trocámos longas cartas espero poder reencontrá-lo um dia.»