Direito ao kitsch estético
Vagueando pela internet, encontrei num blogue português, Barnabé, esta fotografia belíssima associada a um comentário que é uma espécie de identificação de um dos possíveis autores do blogue.
A foto é da autoria de Alexander Gardner, o fotógrafo da guerra civil americana, e o homem fotografado é Lewis Payne, condenado à morte pela participação no assassínio do presidente Lincoln, mais concretamente, pela tentativa gorada de eliminar William Seward, o secretário de estado que fez a compra do Alasca aos russos.
Acontece que a fotografia apresentada naquele blogue corta o resto do corpo, sentado inclinadamente contra uma parede e com grilhetas nos pulsos:
O olhar capturado pela câmara é deveras surpreendente pela serenidade, pela beleza e pelo absurdo. Roland Barthes em Câmara Clara (Edições 70, creio) associou-lhe uma legenda que a torna mais bela ainda «Está morto e vai morrer.» A internet é um dos espaços mais livres que existe e deve manter-se assim. A liberdade, porém, não tem que sacrificar a arte. Não obstante Barthes ter declarado a morte do autor e Foucault a sua morte definitiva, a fotografia em causa só aparece por causa da criatividade de Alexander Gardner. Cortá-la, tal como o fez aquele blogue, equivale a uma versão em cavaquinho da Sagração da Primavera. Apesar de eu não ter gostado de ver assim tratada a fotografia, admito, em nome da liberdade, que todos, sem excepção, temos direito ao kitsch estético.
(O que mais importa agora é que, parece-me, já sei como afixar fotografias; nada mau!)
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